por Rafael Celestino Soares

Apesar dos fósseis ocorrerem em várias das formações geológicas da Bacia do Araripe, é a Formação Santana reconhecidamente a unidade mais fossilífera. Não por acaso, esta formação é referida internacionalmente como Lagerstätten, termo alemão atribuído às jazidas fossilíferas que possuem uma grande diversidade de material, em condições de excepcional preservação. Por esta razão será enfatizado a Paleontologia da Formação Santana, ressalvando que este é um tema em evolução rápida e permanente. Neste exato momento, em que o estimado leitor debruça-se na leitura deste capítulo, é possível que novas espécies estejam sendo descritas e novas observações sobre espécimes já catalogados estejam sendo inferidas pelos paleontólogos.

Os primeiros fósseis da Formação Santana foram registrados por Feijó (1810) e atualmente são incontáveis as obras que versam sobre esta temática. De modo geral, os principais registros acadêmicos são sobre peixes, insetos e vegetais. No Membro Crato ocorrem, com abundância, representantes do peixe Chanidae Dastilbe crandalli Jordan 1910, restos de insetos (muitas vezes inteiramente preservados) pertencentes ao grupo dos ensíferos (grilos), efemerópteros (efêmeras), anisopteros (libélulas), zigopteros (donzelinhas), hemípteros (percevejos), himenópteros (vespas e formigas), neurópteros (formiga-leão), homópteros (cigarrinhas), blatópteros (baratas), isópteros (cupins), dermápteros (tesourinhas), coleópteros (besouros), lepidópteros (borboletas), tricópteros (moscas-de-água), celíferos (gafanhotos) e dípteros (moscas e mosquitos; além de fragmentos vegetais de samambaias do gênero Ruffordia e de coníferas do gênero Brachyphyllum). Ainda há o registro da presença de gnetales (Cratonia, Welwitschophyllum, Welwitschiaprisca e Welwitschiobrus), de angiospermas (gêneros Araripia, Endressinia, Iara e Klitzchophylites), e de algas caráceas. Alguns exemplares de fósseis do Membro Crato podem ser visualizados abaixo.

Outros gêneros de peixes foram descritos nesta unidade, ainda que de registro mais raro. É o caso de Vinctifer, Tharrias, Lepidotes, Cladocyclus, Araripelepidotes, Axelrodichthys, Santanichthys, Placidichthys e Cratoamia. Pterossauros também ocorrem nos estratos do Membro Crato, especialmente de dois grupos principais: Os tapejarídeos, caracterizados pela presença de uma crista sagital bem desenvolvida na parte anterior do crânio (Tapejara, Tupuxuara, Thalassodromeus) e os anhanguerídeos, que possuem uma crista sagital sobre o pré-maxilar e outra sob a mandíbula (Anhanguera, Tropeognathus, Arthurdactylus. Outros vertebrados são igualmente registrados, tais como: Anuros, crocodilomorfos, quelônios e penas isoladas, provavelmente pertencentes a aves primitivas. Entre os invertebrados, são conhecidos os registros de aracnídeos (aranhas e escorpiões), decápodos (caranguejos) e miriápodos (lacraias), assim como de biválvios e gastrópodos indeterminados.

No Membro Ipubi, há ocorrência de tapetes algalícos de cianofíceas, restos de vegetais, restos de peixes actinopterígeos e de conchostráceos, todos pouco investigados. No Membro Romualdo, os peixes novamente se destacam fossilizados no interior de concreções calcárias. Predominam as espécies Vinctifer comptoni, Rhacolepis buccalis e Tharrhias araripes. Também são comuns os gêneros Araripelepidotes, Brannerion, Calamopleurus, Cladocyclus, Lepidotes, Notelops e Santanaclupea. Pouco comuns, mas também importantes, são Araripichthys, Beurlenichthys, Iemanjá, Neoproscinetes, Obaichthys, Oshunia, Paraelops, Placidichthys, Santanichthys, o tubarão Tribodus limae, a arraia Iansan beurleni e os celacantos Axelrodichthys araripensis e Mawsonia brasiliensis. Outros grupos de vertebrados têm ocorrência registrada no Membro Romualdo da Formação Santana: quelônios (gêneros Araripemys, Santanachelys, Brasilemys, Cearachelys e Caririemys), dinossauros (Angaturama, Irritator, Mirischia, Santanaraptor), crocodilomorfos (gêneros Caririsuchus e Susisuchus) e pterossauros (gêneros Araripedactylus, Cearadactylus, Santanadactylus e Brasileodactylus). A parte superior do Membro Romualdo apresenta bancos calcários que abrigam fósseis de invertebrados, como equinoides do gênero Pygurus, moluscos gastrópodos (Craginia e Gymnentome), e biválvios (gênero Legumen, Barbatia e Pseudoptera), além de formas indeterminadas de crustáceos (decápodos e copépodos). Entre os vegetais descritos, há formas de coníferas do gênero Brachyphyllum. Alguns espécimes do Membro Romualdo podem ser visualizados a seguir. Microfósseis ocorrem em abundância em todos os membros da Formação Santana, com destaque para os ostracodes e palinomorfos. Dos ostracodes, destacam-se as formas pertencentes aos gêneros Darwinula, Theriosynoecum, Pattersoncypris, Petrobrasia, Pseudocypridina, Reconcavona e Salvadoriella. Os palinomorfos registrados são dos gêneros Araucariacites, Classopolis, Cyathidites, Deltoidospora, Gleicheniidites e Sergipea. Também existem ocorrências de dinoflagelados (Subtilisphaera e Spiriferites) e, mais raramente, de foraminíferos (Rhodonascia e Quinqueloculina).